Pesquisa revela aumento na venda de medicamentos psiquiátricos durante pandemia
Um levantamento do Conselho Federal de Farmácia (CFF) mostra que, de janeiro a julho de 2020, houve um crescimento de quase 14% nas vendas de antidepressivos e estabilizadores de humor, se comparado ao mesmo período de 2019. Ou seja, o número de unidades vendidas pulou de 56,3 para 64,1 milhões de um ano para o outro. Esses medicamentos são usados em casos de transtornos afetivos, como depressão e distimia.
O psiquiatra Lúcio Botelho, que é diretor-médico, idealizador e co-fundador da OMNI – Centro de Terapias Biológicas, acredita que parte do aumento no consumo de medicações psiquiátricas se justifica pela automedicação. “Muitos pacientes costumam se automedicar, utilizando medicações de familiares. Outro aspecto importante a se destacar foi a mudança na legislação durante a pandemia que permitiu que os pacientes levassem para casa uma quantidade maior de medicamento, devido à dificuldade de retornar ao médico durante o isolamento”, ressalta Lúcio Botelho, que também é diretor-médico do mais antigo hospital psiquiátrico de Salvador, o Espaço Nelson Pires.
O psiquiatra acredita também que o aumento no consumo de medicações, sejam elas psiquiátricas ou clínicas, está ligada a pandemia e seus desdobramentos, como os sentimentos de angústia, tristeza, desamparo e solidão causados pelo medo de adoecer e morrer, de perder as pessoas amadas, de ser demitido, de não ter suporte financeiro e, até mesmo, de ser excluído socialmente por estar associado à doença. Ele chama atenção para o uso racional dos remédios psiquiátricos, já que as sequelas físicas e mentais devem perdurar para além deste período de calamidade:
“Temos de encontrar um ponto de equilíbrio entre as intervenções medicamentosas, que muitas vezes são fundamentais, e as não medicamentosas, como, por exemplo, psicoterapias, mudanças no estilo de vida, ambientais, comportamentais, prática de exercício físico e outras. O adoecimento psíquico não é uma escolha ou fraqueza. Os fatores implicados no surgimento dos transtornos psiquiátricos são múltiplos e complexos. É importante buscar ajuda do profissional especializado para compreender essa conjuntura e traçar a melhor estratégia de enfrentamento”, diz.
Sintomas e recomendações
Segundo o especialista, entre as reações comportamentais mais comuns durante a pandemia estão as alterações do sono, apetite, conflitos interpessoais, pensamentos recorrentes quanto a pandemia, saúde pessoal e pensamentos relacionados à morte. Dentre as recomendações para evitar o adoecimento psíquico neste período está o auto reconhecimento e acolhimento das próprias angústias e medos pessoais, procurando dividi-los com pessoas de confiança, como amigos e familiares.
“A prática de exercício físico, em especial aeróbico, e outras ações como meditação, leitura, exercícios de respiração também auxiliam na redução do nível de estresse agudo. É importante perceber os limites do corpo e da mente. Se você estiver trabalhando durante a pandemia, fique atento a suas necessidades básicas, garanta pausas sistemáticas durante o trabalho e entre os turnos. Evite o isolamento junto a sua rede socioafetiva, mantendo contato, mesmo que virtual. Algumas advertências e alertas precisam ser feitos: evite o uso do tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com as emoções”, completa Lúcio Botelho.
Um profissional deve ser procurado em sintomas persistentes de sofrimento intenso, complicações associadas – por exemplo, comprometimento significativo do funcionamento social e cotidiano, dificuldades profundas na vida familiar, social ou no trabalho, risco de complicações, em especial o suicídio, problemas coexistentes como alcoolismo ou outras dependências, além de luto patológico, depressão, transtornos de adaptação, manifestações de estresse pós-traumático e transtorno de estresse pós-traumático. “Depressão maior, psicose e transtorno por estresse pós-traumático são quadros graves que requerem atenção especializada”, finaliza o psiquiatra. (Ascom)