Transtornos de ansiedade e depressão crescem entre estudantes universitários no Brasil
Com o final do semestre acadêmico e do ano letivo, a saúde mental de alunos universitários tem preocupado psiquiatras e médicos. De acordo com pesquisa realizada pela Fiocruz, mais de 60% dos estudantes universitários de pós-graduação apresentaram quadros de crises de ansiedade e dificuldade para dormir, desde o início da pandemia. Problemas de atenção e concentração para estudar foram reportados também por esses discentes, que relataram falta de ânimo nos estudos.
Segundo o psiquiatra, especialista em tratamento das adições, Mateus Freire, às constantes exigências acadêmicas e cobranças por produtividade tem gerado os quadros de transtornos mentais entre alunos universitários.
“Uma das coisas que temos visto que causa o aumento de transtornos mentais é o grande nível de exigência de produtividade na produção científica. O meio acadêmico em si já tem múltiplas fontes de estresse. Pressão por conta de prazos, cobrança na qualidade da pesquisa, leitura em dia e, ainda, a necessidade de dividir a atenção com outros trabalhos, alavancam esses transtornos. Tudo isso vem sendo reconhecido no meio acadêmico. Esses problemas ocasionam estresse e precipitam casos de ansiedade entre outros”, observa o psiquiatra.
A análise da Fiocruz mostra também que quase 80% dos estudantes alteraram seus trabalhos acadêmicos e projetos de pesquisa. Já 9% dos alunos mudaram completamente de graduação e seus estudos. Para o especialista, os transtornos que os estudantes vêm apresentando podem gerar variados problemas no desenvolvimento de sua vida profissional.
“Os impactos são muito claros no rendimento acadêmico e em quedas muito bruscas nas notas. A própria cultura da sociedade de cobrar resultados por aprovação, notas altas, inserção no mercado de trabalho geram consequências graves. Ainda pode acontecer de o aluno desistir dos estudos e levar o aprendizado como uma carga pesada e maçante”, diz Freire.
O psiquiatra explica ainda que discentes negros e LGBTQI+ estão mais propícios a enfrentarem quadros de depressão e ansiedade. “Se há um perfil de estudantes eu diria que são especialmente estudantes LGBTQI+ e alunos negros. Essas pessoas têm uma incidência maior de comportamento suicida em comparação com outros estudantes”, conta Mateus.
“É necessário ter serviços de saúde disponíveis, para atendimento especializado aos discentes acadêmicos, seja nas faculdades ou em outras instituições. Ao apresentar algum problema relacionado a esses quadros, a pessoa precisa passar por um cuidado adequado, para não desenvolver excessivamente algum tipo de transtorno. Esse teor mais capitalista, dos marcadores do sucesso, esse modo de ver a educação como uma fábrica de resultados de diplomas, e de artigos científicos precisam ser analisados”, conclui. (Ascom)