Jorge de Angélica

Foto: Jorge Magalhães

A luta contra a escravidão é histórica com avanços reconhecidos, mas ainda distantes de estabelecer o quadro de igualdade social desejado. O dia 20 de novembro, feriado nacional, talvez seja uma porta aberta para a dissolução de barreiras existentes e o surgimento de um convívio social onde a cor da pele não seja o limite.

Na verdade, a questão étnica, nos últimos tempos, tem suscitado discussões, produzindo melhorias relacionais em todos os campos da sociedade do Brasil, país agroexportador que, com a sua macro dimensão territorial e cultural, oportuniza a evolução humana através dessa marcante diversidade.

Recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que 54,4% dos negócios do país são administrados por empresários pretos. Na Bahia os números são mais significativos – quase 80% das pequenas empresas baianas são geridas por pessoas negras. Esses dados demonstram que tem havido evolução quanto à posição da pessoa de cor (negra) na sociedade.

Portanto, assim como o dia 7 de setembro – Independência do Brasil – é importante para todos os brasileiros, o 20 de novembro é para a comunidade afrodescendente que desde dezembro de 2023 teve instituído o feriado nacional, intitulado Dia da Consciência Negra, e ser comemorado pela primeira vez este ano.

Uma luta antiga que transcende os limites do território pátrio e que, em Feira de Santana, tem figuras exponenciais como a guerreira pela causa, Lourdes Santana – Lurdinha que vê o Dia da Consciência Negra como um importante passo à frente na luta do “povo negro ou povo preto”, como ela diz, que decorre de séculos, mas continua enfrentando a barreira do preconceito social.

A cor da pele é um limite, um divisor social, observa. Lurdinha garante que continua difícil, o acesso de um jovem negro à universidade até mesmo pela condição financeira da família. Na saúde a questão é mais grave, já que até para obter remédios que devem ser entregues de graça pelo governo, tem sido necessário recorrer à justiça.

Reconhece que houve avanços principalmente na música e mais recentemente na TV, graças a atores como Zezé Mota e Lázaro Ramos, mas é tudo ainda muito superficial. Lurdinha lamenta que a sociedade tenha o seu padrão e não queira aceitar a mulher negra como ela é: uma negra. Lourdes Santana começou em 1968 como modelo a convite de Nunes Natureza, Gilsan e Dionorina, foi ganhadora do Concurso Beleza Negra, dezenove projetos de lei, por ela idealizados, foram apresentados e aprovados pela Câmara de Vereadores e continua com intensa atuação no campo social, através de uma ONG, trabalhando indistintamente por pessoas negras e brancas, reiterando que a sociedade precisa mudar e deixar de avaliar as pessoas pela cor da pele.

Professora da Universidade Federal do Recôncavo, em Feira de Santana, Hely Pedreira, consagra importância à data como resultado de uma luta pretérita e contínua. Ressalta que embora as comemorações concentrem-se no dia 20, a programação é abrangente durante todo o mês. Assim o Novembro Negro é simbólico há algum tempo com muitas atividades.

Nacionalmente conhecido pela sua trajetória musical e os seus hits, o reggaeman feirense Dionorina, associa a comemoração à data de morte de Zumbi dos Palmares (20 de novembro de 1695) despertando a consciência para a necessidade de preservação da roupa, da música, da religião, da comida, enfim de todos os símbolos culturais dos povos afro. A data como feriado nacional é, desse modo, um justo preito ao líder negro do quilombo dos Palmares, em Alagoas, que morreu lutando e teve a cabeça cortada e exposta em praça pública.

Professor, homem público muito conhecido – já foi secretário municipal e vereador – Justiniano França também considera importante o Dia da Consciência Negra e observa: “Na verdade, todo cidadão deveria ter consciência e entender que a população negra desde o período da escravidão vem lutando para resgatar, de forma digna, sua cidadania, de modo que possamos, dentro da sociedade, conquistar as oportunidades de forma igualitária. As políticas públicas de reparação têm tido um papel importante em nossa sociedade, no entanto a consciência de cada cidadão é que vai garantir, sem nenhum tipo de discriminação, a condição de iguais no nosso dia a dia, sem que haja injustiças com a população negra”. (Por Zadir Marques Porto/PMFS)