“É preciso dar um basta na cultura de violência contra as mulheres no país”, frisa juíza Renata Gil
Idealizadora da campanha Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica, a juíza Renata Gil, presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), afirma que é preciso dar um basta na cultura de violência contra as mulheres no país. Em entrevista para a Assessoria de Comunicação do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA), a presidente da AMB declara que a Lei Maria da Penha é a terceira melhor do mundo, ficando atrás apenas da Espanha e do Chile. Entretanto, a juíza afirma que o país é o quinto pior no mundo em violência contra as mulheres. “Nesse sentido, nós temos que trabalhar muito na forma de execução de todas as medidas que foram pensadas neste diploma legislativo”, avalia.
Ela alerta que o maior número de registros do Disque 190, da Polícia Militar, é por casos de violência doméstica. No contexto da pandemia, a representante dos magistrados afirma que foi preciso pensar em novos mecanismos para que as mulheres pudessem denunciar seus agressores. “As mulheres estavam encarceradas, enclausuradas com os agressores e, naquele primeiro momento da pandemia, o funcionamento das delegacias estava reduzido, as Defensorias estavam atendendo por e-mail, os Tribunais de Justiça funcionavam em regime de plantão, então onde essas mulheres iriam denunciar?”, questiona.
Ao ver as notícias acerca do número de violência doméstica na pandemia, somada a inquietação de ter um país mais igual para as mulheres, Renata Gil pensou que era preciso fazer algo. Conversando com outra magistrada que integra a diretoria da AMB, surgiu a ideia, inspirada na campanha indiana “Red Dot”, que consiste nas mulheres indianas pintando um sinal vermelho na palma da mão para pedir socorro. “Pensei que precisávamos de um lugar que estivesse aberto 24 horas. Pensamos em farmácias, pois tem em todos os lugares, e o sinal não depende de interpretação quando a pessoa o apresenta. Todo mundo já sabe que é um pedido de socorro. Já é algo que está tão no inconsciente de homens e mulheres, que a gente tem visto o bilhete de papel com um X para denunciar. As mulheres de todo o Brasil tem usado o sinal, mesmo que não estejam pintando um X na palma da mão, só fazendo o gesto”, conta. “Pensamos no X vermelho como um sinal de trânsito. Daqui para frente, não passa. É um basta”, declarou.
Na entrevista, a juíza Renata Gil afirma que a sociedade brasileira tem um pensamento patriarcal, que resiste à ideia de igualdade de gênero e destaca a importância da Justiça Eleitoral para garantir a maior participação das mulheres no campo da política. “O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem prezado pela paridade de gênero, pelas cotas e em suas decisões”. Para ela, o combate à violência doméstica precisa de envolvimento e sensibilização dos homens, mas reconhece que a maioria se afasta do debate, pois “não se sente parte disso”, e tem uma parcela que não acredita que isso aconteça. (Ascom / TRE-BA)