Projeto Feira Tem Teatro traz o espetáculo Lucas da Feira O Sujeito Antes do Mito

Foto: Divulgação/Ascom

O Grupo Recorte de Teatro traz de volta aos palcos a peça teatral aclamada pelo público em uma nova temporada nos dias 17 e 18 de maio, às 20h, no Teatro do Cuca, dentro do projeto Feira Tem Teatro. Os ingressos podem ser adquiridos pelo Sympla, ou na bilheteria do teatro nos dias da apresentação.

No dia 13 de maio de 2024 completou 136 anos da assinatura da Lei Áurea que possibilitou juridicamente a liberdade do povo escravizado no Brasil. Mas será que foi realmente uma princesa e a assinatura de uma Lei que verdadeiramente fez isso? Figuras de história e personalidades únicas provam o contrário. Os próprios escravizados ao longo de séculos de luta e resistência, são creditados como seus próprios heróis.

Em Feira de Santana e região não foi diferente, Lucas Evangelista, mais conhecido como Lucas da Feira, que completa 175 anos de morto em 2024, foi condenado ao enforcamento onde hoje seria a praça do fórum. Ele foi um sujeito que lutou contra o sistema e buscou uma liberdade desde jovem, na fazenda saco do limão próximo de onde hoje fica o bairro pedra do descanso.

O espetáculo desde a sua estreia, em 2019, é uma obra de sucesso tanto do público como crítica, por contar a história de Lucas Evangelista, um negro escravizado que fugiu, indo contra o sistema no qual vivia, passando mais de 20 anos entre as matas e estradas que ligavam Feira de Santana a outras cidades do interior da Bahia, se tornando um símbolo de resistência.

Infelizmente, pouco se sabe sobre a sua trajetória antes de se tornar uma lenda viva, e foi pensando nisso que o autor e diretor do espetáculo, Fernando Souza, que também é historiador, decidiu escrever sobre o Lucas da Feira. “Ouvia falar que Feira era terra de Lucas quando criança e não entendia o porquê. Na universidade tive contato com a história de Lucas, e a vontade de contar essa história nos palcos sempre me inquietou. Conseguimos uma peça forte, divertida, reflexiva, repleta de acontecimentos verídicos e ao mesmo tempo uma aventura pelo sertão baiano”, disse.

O espetáculo tem um processo de construção e pesquisa do século XIX bem fundamentado e bastante dinâmico com 15 atores em cena, que se dividem em mais de 33 personagens, para falar sobre a figura histórica e as mazelas deixadas pelo sistema escravista. E além de contar com trilha sonora original, de Deco Simões, traz discussões como racismo estrutural, patriarcado, machismo, e abusos a que os pretos eram submetidos, principalmente, sexuais em relação às mulheres escravizadas. O espetáculo mescla bem o texto e atuações que trazem a comédia, drama, reflexão e denúncia social, típicos do autor de também o grupo recorte de teatro.

A história de Lucas da Feira divide opiniões. Há quem acredite que o sujeito foi um herói, símbolo de sobrevivência, resistência e luta, enquanto outros acreditam que ele foi um bandido. Porém, o Grupo Recorte se destaca por trazer em seus trabalhos, o realismo, pesquisa, humor e crítica social, logo, o intuito é sempre propor a reflexão e não levantar bandeiras.

Ao ser indagado sobre o porquê é importante falar de Lucas da Feira em 2024, o ator Tom Nascimento, que interpreta Lucas Evangelista em sua terceira fase, disse que “falar de Lucas da Feira é necessário não só em 2024 e sim a todo tempo, porque falar dele é falar da história de Feira de Santana, é fazer perpetuar a nossa história, a história dos nossos ancestrais, é lembrar que antes da gente, vieram outros que lutaram, mesmo que à sua maneira, e aqui eu não estou valorando se Lucas foi herói ou bandido, e sim que foi uma pessoa que se rebelou contra o sistema escravocrata da época e não aceitou sua condição de escravizado. Então essa memória não pode ser perdida.”

Histórico do Grupo Recorte de Teatro

O Grupo Recorte de Teatro surgiu em 2014 com o espetáculo “Encarceradas”, o qual foi indicado ao prêmio Braskem 2019, falando sobre a realidade do cenário carcerário feminino e, no ano de 2019 estreou também o seu mais recente trabalho, “Nem Amélias, Nem Quitérias”, trazendo a discussão sobre as diversas violências sofridas pelas mulheres nessa sociedade, com a personificação do machismo e feminismo.  Além disso, o grupo também tem em seu currículo participações em festivais e projetos culturais como: FENATIFS, 4×4, Feira Tem Teatro, Se Mostra Interior e o Festival do Interior da Bahia. (Ascom)