Vitrine do Absurdo
“Lobisomem ataca em São Paulo”, “Mulher flagra o marido com outro homem na cama”, “Mendigo é apedrejado por vândalos em Brasília”, “Religioso é pego com drogas no Pelourinho”, “Criança nasce com quatro braços em Aracaju”, “Chacina apavora moradores da Rocinha”. Estas manchetes são fictícias, porém não estão longe do cotidiano dos programas sensacionalistas. Sexo, sangue, violência, acidentes e escândalos são as atrações principais dos “circos jornalísticos” que emocionam as camadas populares do Brasil.
Também aparecem como características do sensacionalismo: a corrida pela audiência menos qualificada, do ponto de vista da instrução e da informação; a vulgarização da linguagem (gírias, termos chulos e redundância); os desvios de conduta ética (pronunciamentos e entrevistas tendenciosas, personagens fictícios, imagens fraudulentas e notícias mal apuradas.); os efeitos sonoros (apito, sirene, buzina, vinheta etc.) e o modelo de estúdio semelhante a um tribunal, onde os repórteres e os âncoras atuam com juízes e advogados frente aos desvios sociais.
Nos programas de baixo nível, o espetáculo se faz presente em todo instante, no entanto, ele é mais escancarado nas reportagens de rua, sobretudo, nas praças do centro da cidade e nos bairros periféricos. Tudo é pensado estrategicamente para favorecer o ibope. Partindo dessa premissa, os recursos de entretenimento são acionados, como por exemplo, música, dança, humor e outras fórmulas mágicas de magnetizar a atenção do público, tais como: indivíduos que choram, vibram, reivindicam, denunciam, contracenam, satirizam mediante vestuários, sonoridades, expressões corporais e faciais, entre outros.
Acredita-se que, embora passem a imagem de democratização de espaço público, visto que os microfones ficam quase sempre livres para o povo expressar suas aptidões, prazeres, desejos e magoas, os telejornais sensacionalistas estão carregados de apelos políticos, religiosos e comerciais, muitas vezes imperceptíveis, favorecendo assim, a manutenção do controle social das classes hegemônicas e a saúde financeira dos veículos.
Segundo os estudiosos, os meios de comunicação de massa possuem quatro funções básicas: informar, educar, fiscalizar e divertir. Ao direcionar suas atenções, com prioridade aos fatos popularescos, como violência urbana e denuncismo, a primeira função, nesses telejornais, não é atendida adequadamente, uma vez que a realidade dos brasileiros não se constitui apenas de sangue, sofrimento, revolta e miséria.
A despeito da educação, os programas deixam de cumprir seu papel social, justamente porque se apoderam de linguagens vulgares e não aprofundam em questões relevantes ao conhecimento, como por exemplo, tecnologia, meio-ambiente, economia, cultura e política.
Quanto à fiscalização, os telejornais apresentam denúncias e cobram de algumas autoridades competentes as devidas providências, todavia, muitos fatos de ordem pública, que afetam, inclusive, o bolso do cidadão, são camuflados em nome de interesses unilaterais de empreendedores e anunciantes.
Por sua vez, a diversão é extrapolada, de modo a proporcionar o espetáculo. As pessoas desprovidas de senso crítico entregam-se de corpo e alma às armadilhas do entretenimento, ajudando assim, a promover a audiência e as baixarias. Partindo desse pressuposto, a notícia espalhafatosa não oferece informações que possam melhorar o padrão de vida dos brasileiros e, consequentemente, o crescimento do país.
Jornalista Sérgio Augusto